CONJUNTIVITE EM CÃES
A
conjuntiva ocular é uma membrana mucosa delgada que reveste as pálpebras e a
porção exposta da esclera. É dividida em três partes anatômicas, contínuas uma
a outra: conjuntiva palpebral (reveste as pálpebras), conjuntiva
bulbar (reveste o bulbo ocular) e conjuntiva nictitante (reveste a
terceira pálpebra). É composta de epitélio escamoso estratificado não
queratinizado e substância própria. A conjuntiva é extremamente móvel, menos no
limbo e nas margens palpebrais, e apresenta vasos estreitos, ramificados e
tortuosos em sua natureza.
Algumas funções da conjuntiva são: a prevenção do ressecamento corneal, o aumento da mobilidade palpebral e atua como uma barreira para microrganismos e corpos estranhos.
Esquema do olho canino
Fonte: https://www.cpt.com.br/artigos/olhos-dos-animais-domesticos-voce-sabe-qual-a-funcao-das-palpebras
A
conjuntivite é a inflamação da conjuntiva. As três reações mais comuns da
conjuntiva são hiperemia (vermelhidão que ocorre pela dilatação dos vasos
sanguíneos), quemose (inchaço do tecido que recobre as pálpebras; edema
conjuntival) e secreção ocular.
É
importante saber a localização anatômica da hiperemia para diferenciar uma
conjuntivite superficial de processos inflamatórios intraoculares mais graves. A
hiperemia pode ou não estar presente. A
córnea não é afetada e a pressão intraocular é normal.
A
quemose* é mais notável no processo de conjuntivite aguda, quando o inchaço ou
edema da conjuntiva pode ser mais grave.
A
secreção ocular é muito comum na conjuntivite. Pode ser serosa, mucoide ou
catarral (conjuntivite folicular), mucopurulenta ou purulenta.
A
natureza da epífora** vai apontar o tipo/causa da conjuntivite e, assim, indicar
o tratamento correto.
Olho de um cão com secreção purulenta devido a conjuntivite
*Quemose -
edema na conjuntiva, que pode ou não estar associado com inflamação no
olho.
**Epífora - patologia ocular caracterizada por um extravasamento do filme lacrimal pela região subocular, causando conjuntivites recorrentes, dermatites, fistulações e mancha suboculares importantes. Pode ocorrer por anomalias congênitas ou condições adquiridas as quais provocam um estreitamento ou obstrução em algum nível do sistema excretor lacrimal.
Olho de um cão apresentando
epífora
Sinais e sintomas –
Além
da hiperemia, quemose e secreção ocular, há outros sinais clínicos como a
hemorragia, blefarospasmos (contrações involuntárias da pálpebra), formação de
folículos, prurido, inchaços anormais e hemorragia subconjuntival.
A dor e a fotofobia são, normalmente, mínimas.
Diagnóstico –
Após exames (hemograma e urinálise) para determinar o estado geral da saúde do animal, são necessários exames oftalmológicos, onde é examinada a opacidade do cristalino, lacrimejamento e pressão intraocular (PIO), bem como exame de fundo de olho.
Diagnóstico diferencial –
Conjuntivite primária: de origem
viral, bacteriana, alérgica, tóxica ou química.
Conjuntivite secundária: à doença adnexal, à doença corneal (ceratoconjuntivite seca ou ulceração), à doença retrobulbar, blefaropatias (entrópio, ectrópio e fundo-de-saco exagerado), doenças dos cílios (distiquíase e cílios ectópicos) e doença sistêmica (incluindo doença dentária).
Métodos diagnósticos*** –
Teste de
Schirmer em cão
• Exame
oftalmológico completo (teste lacrimal de Schirmer) — excluir
ceratoconjuntivite seca.
• Coloração
com fluoresceína — descartar ceratite ulcerativa.
• Mensuração
da pressão intraocular — excluir glaucoma.
• Exame
em busca de sinais de uveíte anterior (p. ex., hipotonia, rubor aquoso e
miose).
• Exame
detalhado dos anexos — descartar anormalidades das pálpebras e dos cílios, bem
como corpos estranhos nos fundos-de-saco (fórnix) conjuntivais ou sob a
membrana nictitante.
• Lavagem
com irrigação nasolacrimal — considerada para descartar doença nasolacrimal.
• Cultura
bacteriana aeróbia e antibiograma — em casos de secreção mucopurulenta; as
amostras são idealmente coletadas antes de se instilar qualquer coisa nos olhos
(p. ex., anestésico tópico, fluoresceína e irrigação) para evitar a inibição ou
a diluição do crescimento bacteriano; exames não indicados com rotina em casos
de ceratoconjuntivite seca e secreção mucopurulenta, pois a proliferação
bacteriana secundária é quase incontestável.
• Citologia
conjuntival — pode revelar a causa (raro); o encontro de eosinófilos e
basófilos podem ajudar a diagnosticar conjuntivite alérgica e eosinofílica, mas
essas células raramente são observadas em casos de conjuntivite alérgica,
exceto à biopsia; como indicadores de infecção bacteriana, podem-se observar
neutrófilos degenerados e bactérias intracitoplasmáticas; podem-se verificar
corpúsculos de inclusão (intracitoplasmáticos em casos de envolvimento do vírus
da cinomose).
• Biopsia
conjuntival — pode ser útil em casos de lesões expansivas (tipo massa) e
doenças imunomediadas; pode auxiliar na obtenção do diagnóstico definitivo em
casos de doença crônica.
• Teste cutâneo intradérmico — pode ter utilidade na suspeita de conjuntivite alérgica.
***retirado
na íntegra do livro Consulta Veterinária em 5 Minutos - 5ª edição - Tilley e
Smith Jr. – pg. 262
Tratamento –
Aplicação de
colírio em cão
O
tratamento vai depender de alguns fatores, como o tipo de secreção apresentada
no olho do animal, por exemplo.
Nos casos em
que a secreção é catarral, recomenda-se a higiene do olho, várias vezes ao dia.
Se houver suspeita de alguma infecção (ou para preveni-la) pode ser usado
colírios antissépticos à base de amônios quaternários ou de antibióticos de
amplo espectro.
Quando a
secreção e mucosa (conjuntivite folicular), o tratamento consiste na destruição
dos folículos (por curetagem, por exemplo), e a aplicação de colírios ou
pomadas oftálmicos, durante 7 a 10 dias, várias vezes ao dia. Observação:
alguns oftalmologistas não recomendam a retirada dos folículos por estes
representarem um meio de defesa ocular, somente sendo retirados em casos muito
graves.
Já nos casos
do animal apresentar secreção mucopurulenta ou purulenta, recomenda-se a
administração de colírios à base de antibióticos de amplo espectro ou de
associações de antibióticos, tais como cloranfenicol, neomicina, polimixina B,
gentamina, entre outros. Em caso de insucesso, é necessário exame
microbiológico, micológico e antibiograma para um diagnóstico mais preciso.
Quando há
suspeita de ceratoconjuntivite por defeito lacrimal, o teste de Schirmer
assegura o diagnóstico.
Em
casos onde há suspeita de dermatopatias e/ou alergia alimentar subjacentes,
recomenda-se uma dieta de eliminação (hipoalergênica).
Nota: é interessante saber que existem raças de cães com predisposições a problemas oculares de origem congênita ou adquirida. Shar pei, Bulldog, Rottweiler, Chow chow, entre outras raças, podem desenvolver alterações nas pálpebras e prolapso da glândula da terceira pálbebra (aparece uma bolinha vermelha no canto interno do olho), necessitando de tratamento cirúrgico. Raças de focinho curto e olhos salientes (braquicefálicos), tais como Pug, Shih tzu, Lhasa apso, Pequinês e Maltês podem desenvolver úlceras de córnea. Já as raças Cocker spaniel, Poodle, Beagle e Bulldog tem predisposição a lágrima ácida (lágrima em quantidade e qualidade inadequadas).
Não medique o animal!!!
Ele deve ser levado a uma
clínica veterinária quando houver suspeita da doença. O tratamento correto será
prescrito pelo médico veterinário.
Referências –
MORAILLON, R. Manual Elsevier de Veterinária : diagnóstico e tratamento de cães, gatos e animais exóticos / Robert Moraillon, Yves Legeay, Didier Boussarie, Odile Sénécat - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013.
TILLEY, LARRY P. Consulta veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina / Larry Patrick Tilley, Francis W. K. Smith Junior- 5. ed. -- Barueri, SP : Manole, 2015.
TURNER, SALLY M. Oftalmologia em pequenos animais / Sally M. Turner – Rio de Janeiro : Elsevier, 2010
https://petfriends.com.br/conjuntivite-canina
https://www.pubvet.com.br/artigo/2337/tratamento-ciruacutergico-da-epiacutefora-crocircnica-em-animais-de-companhia
https://www.portalsaofrancisco.com.br/saude/quemose