Ilustração da anatomia do
olho
Fonte:
http://www.visaoanimal.com.br
A ceratoconjuntivite seca (CCS), xeroftalmia ou
olho seco é uma doença ocular causada pelo ressecamento da córnea e da
conjuntiva, seja pela insuficiência na porção aquosa do filme lacrimal
(deficiência quantitativa) ou pela evaporação excessiva da lágrima (deficiência
qualitativa). Com isto, ocasiona mais muco e gordura no filme lacrimal.
Muitas são as causas que
levam um animal a ter a CCS. Além dos fatores congênitos, pode surgir por doenças
sistêmicas, doença da glândula lacrimal, toxicidade e dano à glândula lacrimal
por fármaco, lesão traumática da glândula lacrimal, envelhecimento, falta de
vitaminas, entre outras.
O filme lacrimal
pré-corneano é constituído por três camadas:
-
externa - camada lipídica produzida pelas
glândulas de meibômio (Meibomius) ou tarsais e pelas glândulas de Zeis, ambas
localizadas na conjuntiva, que tem a função de inibir a evaporação da parte
aquosa do filme lacrimal.
-
intermediária - camada aquosa
secretada pela glândula lacrimal principal (75%) e pela glândula da membrana
nictitante (25%), que tem as funções de remover corpos estranhos, manter a
atividade ótica da córnea e de servir como fonte de oxigênio e glicose. Esta
camada contém substâncias antibacterianas, tais como IgA (imunoglobulina) e lactoferrina* (proteína).
-
interna - mucosa onde é produzida a mucina** (proteína) pelas células caliciformes
da conjuntiva, e sua função principal é auxiliar a porção aquosa a se fixar na
superfície da córnea, ou seja, tornar a superfície da córnea que é hidrofóbica
em hidrofílica permitindo sua maior hidratação e uma maior uniformidade de recobrimento.
*Lactoferrina - substância presente
naturalmente no organismo, encontrada na saliva, na lágrima e no caso do homem,
no esperma. Num corpo adulto, a lactoferrina transporta átomos de ferro,
impedindo que eles sejam capturados por bactérias.
**Mucina – proteínas glicosiladas
produzidas por tecidos epiteliais. Sua principal característica é a capacidade
de formar géis, presente na maioria das secreções.
Embora qualquer raça de cães pode apresentar a
doença, algumas apresentam maior predisposição para a CCS: Cocker Spaniel
Americano, Buldogue Inglês, Schnauzer miniatura, Pug, Yorkshire Terrier,
Pequinês, West Highland White Terrier, English Springer Spaniel, Samoyeda,
Shih-tzu e Boston Terrier.
Ceratoconjuntivite em cão
http://www.portalagora.com/noticias/mostrar/pagina/9/id/50660
Em gatos, a CCS é menos frequente, sendo as raças Abssínio,
Persa, Burmês e Himalaia com maior predisposição à doença.
Ceratoconjuntivite infecciosa bovina (CIB)
Doença ocular causada pela bactéria Moraxella bovis (germe gram-negativo
aeróbico, altamente contagioso), que geralmente atinge o rebanho leiteiro,
principalmente no verão. Nesta época há grande infestação de insetos como moscas
(Musca autumnalis e Musca domestica), principais
transmissoras da doença.
Alguns fatores podem contribuir para patogenia da
doença, tais como poeira, gravetos, forragem seca, vento e luz, que podem iniciar
um processo infeccioso, fazendo uma lesão inicial no olho, que servirá como porta
de entrada para a bactéria.
Embora não seja uma doença fatal, é altamente
contagiosa e afeta bovinos de todas as faixas etárias, principalmente bezerros
(quando acometidos, podem apresentar déficits no desenvolvimento, ficando mais
susceptíveis a outras doenças).
A CIB causa consideráveis perdas na produção do
rebanho. Os custos advindos desta doença provêm da perda de peso, queda da
produção de leite e despesas com tratamento. Os animais severamente afetados
apresentam um grande desconforto e depressão. Também pode ocorrer surtos, o que
envolve grande número de animais em um curto intervalo de tempo, causando um
prejuízo ainda maior.
Estágios das lesões da
ceratoconjuntivite infecciosa bovina
A) Área central de
opacidade da córnea. B) Área central de opacidade da córnea circundada por um
halo vermelho de hiperemia. C) Conificação da córnea (ceratocone). D) Ulceração
da córnea com ceratomálacia e hemorragia.
FONTE: Claudio Lombardo de
Barros, Laboratório de Patologia Veterinária – UFSM
Ceratoconjuntivite infecciosa em ovinos e caprinos
(CCI)
Pode afetar tanto ovino e caprino, sem distinção
de raça, sexo e idade, apesar de que borregos e animais mais velhos são mais
facilmente acometidos. Os animais que adquiriram pela primeira vez a doença
conseguem montar uma imunidade natural, que, com o passar do tempo, vai
diminuindo, deixando-os susceptíveis novamente.
Ovino com
ceratoconjuntivite
https://www.udesc.br/arquivos/ceo/id_cpmenu/1043/caderno_udesc_119_15198230630354_1043.pdf
Sinais e sintomas –
Os sinais clínicos dependem
da gravidade do caso. Nos casos agudos, observa-se falta de brilho na córnea,
secreção, blefarospasmo com ou sem úlcera de córnea. Em casos mais crônicos, observa-se opacidade,
pigmentação, neovascularização, superfície corneal irregular, secreção e úlcera
de córnea. Geralmente a secreção ocular é espessa.
Na CIB, os
mais comuns são lacrimejamento e fotofobia, além de manchas brancas que podem
ou não evoluir para uma úlcera. Pode ocorrer ruptura de córnea.
Nos ovinos e caprinos, os sinais clínicos
aparentes são de anorexia, febre, dor, lacrimejamento, opacidade, sensibilidade
à luz, entre outros.
Diagnóstico –
O diagnóstico é baseado no histórico e sinais
clínicos e pela realização do exame oftalmológico completo, incluindo teste de Schirmer*.
*Teste de Schirmer: O teste lacrimal de
Schirmer é a mensuração da produção de lágrima usado no diagnóstico da CCS,
assim como no acompanhamento da resposta ao tratamento.
Teste de Schirmer
Fonte: http://www.oftalmologianimal.com.br/2009/05/ceratoconjuntivite-seca.html
Leituras menores do que 10 e 15 mm/min são
diagnósticas para CCS. Leituras entre 10 e 15 mm/min são consideradas
suspeitas, principalmente em cães de raças grandes.
Tratamento –
Atualmente os medicamentos mais usados para o
tratamento desta afecção são a ciclosporina (imunomodulador e lacrimomimético),
antiinflamatórios esteroidais, antibióticos e substitutos da lágrima. Todos
estes medicamentos são usados topicamente. Técnicas cirúrgicas como
transposição do ducto parotídeo podem ser executadas em casos onde o paciente
não responde à terapia convencional. A técnica está associada a complicações a
longo prazo como blefarite, desconforto, deposição de sais de cálcio na córnea
e alteração da microbiota.
Para a CIB, animais com quadros agudos respondem
bem à terapia com pomadas e soluções oftálmicas de gentamicina, cloranfenicol,
oxatetraciclina, penicilinas e estreptomicinas em repetidas instilações
diárias. No que tange ao uso de fármacos injetáveis, pode-se obter bons
resultados com oxitretaciclinas de longa ação (20 mg/kg) intramuscular, em três
doses intervaladas de 48 horas, ou com o uso de florfenicol (20 mg/kg)
intramuscular, em duas doses com intervalo de 48 horas entre as aplicações. Existem
vacinas inativadas em suspensão injetável para bovinos (MORAK® 5,
KEVAC, BIOQUERATOGEN® ÓLEO).
Para ovinos e caprinos, utiliza-se antibióticos e solução
fisiológica e pomadas para a limpeza do olho. Não existem vacinas específicas
para ovinos e caprinos. As diferentes formulações disponíveis para bovinos não
conferem proteção para ovinos e caprinos, pois o microrganismo responsável pela
ceratoconjuntivite infecciosa em bovinos (Moraxella
bovis) é diferente da espécie que acomete os pequenos ruminantes (Moraxella ovis).
Profilaxia –
Para os pequenos e grandes ruminantes, é
necessário separar os animais infectados daqueles que estão saudáveis para
evitar o contágio, promover o controle das moscas transmissoras da doença e
manter a devida higienização do ambiente. Lembrar que animais recém adquiridos
devem permanecer em quarentena antes de fazer parte do rebanho.
Referências –
Oftalmologia
em Pequenos Animais
Série
Clínica - Veterinária na Prática
Sally M. Turner – Editor da Série: Fred Nind
Elsevier - 2010
SUL BRASIL
RURAL A/C UDESC-C
EDIÇÃO 119
ANO 5 - Quinta-feira, 17 de outubro de 2013
https://www.oftalmovet.com.br/doencas-oculares/catarata/
http://www.revistaveterinaria.com.br/2016/09/06/ceratoconjuntivite-seca-em-caes/
file:///C:/Users/renat/Desktop/MV/LIVROS/LIVROS%20OFTALMOLOGIA/Oftalmologia%20Veterinária.pdf
https://brasilescola.uol.com.br/quimica/lactoferrina.htm
https://educalingo.com/pt/dic-pt/mucina
https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/7705/5466
http://www.revistaveterinaria.com.br/ceratoconjuntivite-infecciosa-em-ovinos/