segunda-feira, 30 de abril de 2018

ESTRONGILOIDÍASE


Fonte: https://www.tuasaude.com/estrongiloidiase/


A estrongiloidíase ou estrongiloidose é uma doença parasitária intestinal, com prevalência em regiões de clima quente (com temperatura que varia de 25ºC a 30ºC) e úmido, e solo arenoso. O agente etiológico é o helminto Strongyloides stercoralis. É um verme pequeno, de forma cilíndrica (nematódeos). Há 52 espécies de Strongyloides, sendo o Strongyloides stercoralis o mais comum em humanos.

 Larva do verme Strongyloides stercoralis
Fonte: https://www.infoescola.com/doencas/estrongiloidiase/

As fêmeas habitam o intestino delgado e, por partenogênese, liberam ovos na luz intestinal (põem ovos-clones, todos do sexo feminino, sem fecundação por espermatozoide). Estes ovos eclodem, liberando larvas rabditiformes (não infectantes), onde a maioria é excretada nas fezes. São quase transparentes, medindo aproximadamente 2,2 a 3 milímetros. Uma fêmea adulta pode viver até 5 anos no intestino, produzindo ovos e liberando larvas dentro deste órgão.

Os machos habitam o solo (forma livre), alimentando-se de detritos orgânicos por toda a vida. As larvas, neste caso, evoluem para larvas filariformes infecciosas.

Larvas de tênia e estrongiloide [Adaptado de Melvin, Brooke e Sadun, 1959]

Fonte: http://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/management-of-strongyloidiasis/management-of-strongyloidiasis-portuguese

Ocorre em locais onde as condições sanitárias são precárias e onde há aglomerações humanas. Afeta o homem e outros primatas, algumas espécies de aves, cães e gatos, com a liberação das larvas no ambiente através das fezes. Isto faz desta doença uma zoonose, pois é possível o cão (por exemplo) ser fator importante na epidemiologia da estrongiloidíase humana, não só como reservatório, mas também como disseminador deste parasita.
Não é doença de notificação compulsória.


Transmissão –


https://www.tuasaude.com/estrongiloidiase/

A infecção ocorre por penetração de larvas infectantes (filarioides) na pele intacta, de forma rápida e indolor (pés descalços na terra ou areia molhadas). Geralmente ocorre a penetração na área da pele mais fina dos pés). Ao atingirem a corrente sanguínea, percorrem, através do lúmen das veias, até o coração, e deste vai até o pulmão (se misturam ao muco e secreções respiratórias). Ali permanecem até tornarem-se irritantes para o órgão. São expulsas para a faringe através da tosse, onde são deglutidas, passando para o trato gastrointestinal. No intestino, transformam-se em vermes adultos, que se alimentam do bolo alimentar do indivíduo acometido e produzem os ovos.

Ciclo da estrongiloidíase
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822002000600016

Pode ocorrer autoinfecção interna, onde algumas larvas rabditiformes se transformam em larvas filariformes infecciosas, e entram novamente na parede do intestino, sem passar pela fase evolutiva no meio externo. Também pode ocorrer autoinfecção externa, onde as larvas filarioides se localizam na região anal ou perianal, onde novamente penetram no organismo do hospedeiro.
Outra forma de o indivíduo se infectar é através da ingestão de água e alimentos contaminados com larvas ou fezes.
Há casos de infecção disseminada, onde o verme acomete órgãos extra intestinais, como o sistema nervoso central, coração, trato urinário, entre outros.
O período entre a contaminação e a liberação de larvas pelas fezes, juntamente com o início dos sintomas, geralmente varia entre 14 e 28 dias. Sendo assim, o indivíduo acometido torna-se um potencial transmissor por cerca de 1 mês.


Sinais e sintomas –

Ao penetrarem na pele, as larvas podem provocar reações alérgicas, causando prurido, manchas vermelhas e inchaço. Geralmente, estes sintomas desaparecem espontaneamente.
Ao ocorrer a migração das larvas para os pulmões, o indivíduo pode apresentar manifestações pulmonares, como dispneia, edema pulmonar (síndrome de Löefler), tosse seca e perfurações nos alvéolos, estas causando alterações inflamatórias.
As manifestações intestinais podem ser de média ou grande intensidade. Podem ocorrer diarreia, dor abdominal e flatulência, náusea, vômito e dor epigástrica.
Quando há hiperinfecção, podem ocorrer febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos, diarreias profusas e enterite (causa pontos ulcerados, podendo ocorrer invasão bacteriana).
Podem, ainda, ocorrer infecções secundárias, como peritonite, sepse, endocardite, meningite (geralmente por enterobactérias e fungos).


Diagnóstico –

São utilizados diversos procedimentos diagnósticos, sendo alguns deles o teste do cordão, exame seriado de fezes, a aspiração duodenal e testes imunodiagnósticos (IFA, IHA, EIA, ELISA).
O diagnóstico laboratorial mais utilizado é o método de Baermann-Moraes*, para detecção de larvas nas amostras fecais. Podem ser usados, também, pesquisas de larvas nas secreções e coprocultura (nas fezes somente são encontradas larvas rabditoides e não ovos, como em outras verminoses).

Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/8917646/

Em casos de hiperinfecção, podem ser encontradas larvas filariformes nas amostras fecais, no conteúdo duodenal, nas secreções e no lavado brônquico. Nas radiografias de tórax podem ser encontrados infiltrados intersticiais difusos, consolidações ou abcessos.
O leucograma é importante, pois há eosinofilia em 50% dos casos. É um sinal de que há infecção simples, não complicadas; geralmente é ausente na estrongiloidíase disseminada. A eosinofilia pode ser suprimida por drogas como corticoides ou agentes quimioterápicos.
Em casos de estudos epidemiológicos, é utilizada a técnica de placas de cultura de ágar-nutriente**.

Meio de cultura sendo preparado na placa de Petri
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsn7bv407fGksoD7767Gl_xZlj4dN1Qz0cRuGJWb6dR9ARJZfFoU2nieZqppz1lmZOWIFPsIXR_4fng9NlrVkOJfz_U0LFrO8pMIPm7nkrkBJ-yI3nAfBdgx4JcCUdbUnpDywbS_Yu8b0/s1600/meio-de-cultura-placa-de-petri.jpg

*Método de Baermann modificado por Moraes - usado para identificar larvas vivas de Strongyloides stercoralis, onde são observados os seus padrões migratórios, tais como o hidrotropismo positivo (migram para a água ou onde há maior umidade) e o termotropismo positivo (migram para locais mais quentes). É dito que estas larvas possuem termohidrotropismo, migrando para águas aquecidas.
Vantagens: fácil execução e específico para larvas de Strongyloides stercoralis.
Desvantagens: odor e inespecífico para ovos e cistos.

**Material nutriente utilizado para a análise de água, alimentos e leite, para a realização de exames bacteriológicos e isolamento de organismos para culturas puras. Usado para o crescimento de microrganismos em laboratório. É, geralmente, composto por extratos de carne e levedura e é utilizado para cultivo de microrganismos pouco exigentes nutricionalmente.


Tratamento –

Diferentes anti-helmínticos podem ser usados no tratamento da estrongiloidíase. Nos casos de infecções não complicadas, geralmente é usada a ivermectina e, como alternativa, albendazol. Estes podem ser usados em conjunto nos casos de hiperinfecção.
Em pacientes imunocomprometidos, o ideal é que seja feita uma terapia prolongada. Os indivíduos que, por qualquer motivo, requeiram tratamento com imunossupressores devem ser avaliados criteriosamente e, se necessário, tratados antes de instituída a quimioterapia imunossupressora.
Em pacientes com impossibilidade de tomar medicamentos via oral, pode ser usada ivermectina em vias parental ou retal.
É importante a realização de um controle de cura, onde são necessários exames parasitológicos após 7, 14 e 21 dias do tratamento (para humanos e animais).
Para animais infectados, usar anti-helmínticos e, para casos de desidratação, é necessário tratamento com fluidoterapia.


Prevenção -       

A prevenção da estrongiloidíase pode ser feita através de medidas simples, como:

·        Sempre andar calçado, principalmente em áreas com areia ou lama;
·        Lavar bem os alimentos antes de comê-los;
·    Manter boa higiene corporal, principalmente após defecar (lavar a região evita a reinfecção);
·        Tratar os animais domésticos infectados;
·        Tratamento sanitário das fezes (saneamento básico);
·        Promover o tratamento em massa em regiões endêmicas.

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Curiosidade –

ágar, também conhecido como ágar-ágar ou agarose, é uma substância mucilaginosa, encontrada nas paredes celulares de diversas espécies de algas marinhas vermelhas, como por exemplo, as dos gêneros Gelidium, Graciliaria e Gelidiela.

Alga marinha vermelha Gelidium crinale (Turner) Lamouroux
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxNe8tuzPUMIiFuz-EmyMyyJQRag7q_poE29tSckl_a_pxYRlxV_-ayhwUhxHwdSow60yFHsLO5xBL0Yt3hh2GVid8ET11cEzZguBHTtvw9sHDaI9HqvSjLZjDwSvbP_DfY325TCxWM78/s1600/alga-vermelha.jpg


Referências –

Bowman, Dwight D.
Georgis – Parasitologia veterinária / Dwight D. Bowman [e colaboradores]
Rio de Janeiro : Elsevier, 2010

Ministério da Saúde
Doenças Infecciosas e Parasitárias – Guia de bolso – 7ª edição revista
Brasília/DF, 2008

https://www.infoescola.com/doencas/estrongiloidiase/
https://www.mdsaude.com/2013/08/estrongiloidiase.html
https://www.tuasaude.com/estrongiloidiase/
http://slideplayer.com.br/slide/7483113/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrongiloid%C3%ADase
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/nemat%C3%B3deos-vermes-filiformes/estrongiloid%C3%ADase
http://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/management-of-strongyloidiasis/management-of-strongyloidiasis-portuguese
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfSGwAE/baermann-moraes-relatorio
https://sites.google.com/site/atlasdeparasitologiafcmmg/metodos-diagnosticos/mtodo-de-baermann-modificado-por-moraes
http://www.engquimicasantossp.com.br/2013/10/agar.html







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