sábado, 18 de agosto de 2018


ANATOMIA E FUNÇÃO DO OLHO



Superfície ocular normal do cão (A) e do gato (B).
Fonte: http://www.oftalmologianimal.com.br/2009/04/bulbo-ocular.html

Os olhos são prolongamentos do cérebro. A função dos olhos é ser uma porta de entrada de luz para o corpo e cérebro. São eles que informam à mente tudo o que está acontecendo, ou seja, os olhos percebem tudo à nossa volta para que a mente saiba o que fazer. Como exemplo, são responsáveis por avisar quando há luz no ambiente. Quando isso acontece, a mente entende que precisa produzir hormônios para nos manter acordados. Agora, quando o ambiente está escuro, o cérebro entende que o organismo precisa “desligar” (dormir).

Ilustração da anatomia do olho

Fonte: http://www.visaoanimal.com.br

O globo ocular é constituído por três túnicas:
  • ·       Externa fibrosa e protetora – esclera e córnea.
  • ·       Média vascular – íris, corpo ciliar e coroide (úvea).
  • ·       Interna nervosa – retina, disco do nervo óptico e nervo óptico.

O olho é composto por várias estruturas, cada qual com sua função:

Ilustração da anatomia do olho
Fonte: https://dicaspeludaswordpress.files.wordpress.com/2011/09/666872825.jpg

  • Câmara anterior: localizada atrás da córnea, preenchida por um líquido – o humor aquoso*.
*Humor aquoso – fluido composto por glicose, oxigênio e aminoácidos, resultante da ultrafiltração e secreção ativa das células epiteliais ciliares.
  • Câmara posterior: localizada entre o epitélio pigmentado posterior da íris e pela cápsula lenticular, também preenchida pelo humor aquoso.
  • Conjuntiva: mucosa que envolve a parte interna das pálpebras e cobre parte da esclera (branco do olho).
  •  Córnea: membrana transparente que reveste a frente do olho. A transparência ocorre por ser avascular. Possui grande enervação amielinizada.
Vista lateral do olho felino. Observar transparência da córnea.
Fonte: http://www.oftalmologianimal.com.br/2009/04/bulbo-ocular.html

Um dos animais que faz melhor uso da córnea é a Aranha Saltadora (Phidippus mystaceus). Alguns dos seus olhos são "telescópicos", o que lhe permite aumentar a intensidade da luz. Além disso, alguns dos seus olhos fazem uma varredura ("scan") para cá e para lá da imagem até que a aranha identifique a natureza do objeto.

Olhos das aranhas
Fonte: https://pt.kagouletheband.com/zhivotnye/32839-skolko-glaz-u-pauka.html

  • Coroide: membrana vascular, localizada atrás da íris.
  • Corpo ciliar: estrutura que produz o humor aquoso. É dividido em pars plicata e pars plana. A pars plicata compreende os processos ciliares (projeções digitiformes). As zônulas originam-se nesta porção; permitem o posicionamento correto da lente. A pars plana fica localizada posteriormente à pars plicata. É uma região avascular.
  • Esclera: camada que tem como funções o suporte ao bulbo e a proteção física do conteúdo intraocular contra agentes externos.
  • Íris: membrana colorida que separa a câmara anterior da posterior; há comunicação entre as câmaras através da pupila, por onde flui o humor aquoso.
  • Lente ou cristalino: estrutura biconvexa, avascular, elástica e transparente, que tem como função focalizar a luz sobre a retina. É cristalina, possuindo 65% de água e 35% de proteínas. É a estrutura mais rica em proteínas do organismo. Por ser avascular, nutre-se e oxigena-se por meio do humor aquoso e tem através da glicose sua fonte de energia mais importante.
  • Limbo: região entre a córnea e a esclera. É o principal local de onde partem os vasos para suprimento vascular nos casos de inflamação e reparação corneais (vascularização corneal).
 Esquema de bulbo ocular e nomenclatura de orientações anatômicas (MURPHY et al., 2013)
Fonte:http://bdm.unb.br/bitstream/10483/11428/1/2015_RachelLouiseAutranLourencoTeixeiraNeto.pdf
  • Músculos ciliares: estão dispostos radialmente e ajustam a quantidade de tensão exercida sobre a lente. Quando relaxam, a lente é achatada pela tensão elástica (objetos distantes são focalizados). Quando contraem, a lente é arredondada (acomodação para objetos próximos).
  • Nervo óptico: é uma porção do sistema nervoso central e não um nervo periférico.
  • Pálpebras: são pregas cutâneas dorsais e ventrais, alinhadas com a conjuntiva palpebral; formam a fissura palpebral, na qual o bulbo está situado. A pálpebra superior é mais móvel que a inferior na maioria das espécies. Têm funções de proteção, distribuição do filme lacrimal, remoção de corpos estranhos, entre outras.
  • Pupila: abertura na íris, com diâmetro regulável, situada entre a córnea e o cristalino. Tem a função de captar a luz do meio exterior e levá-la até os órgãos sensoriais da retina.
  • Retina: estrutura do bulbo ocular responsável pela visão. É uma membrana que reveste a parte interna do olho, possuindo uma camada e outra externa (suprida por vasos da coroide).  É fixada através da pressão do vítreo e do humor aquoso. Macroscopicamente, apresenta-se como uma delicada membrana opaca, que recobre a coroide. As aves possuem a retina mais desenvolvida, contendo maior número de cones (cor) e bastonetes (luz).
  • Tapetum lucidum: membrana azul que fica no fundo do olho, por trás da retina, e tem a função de refletir a luz de volta para a retina, melhorando a visão em condições de pouca luz.
  • Vítreo: material gelatinoso que preenche o olho. É composto por 98% de água e 2% de sólidos (proteínas > lipídios e carboidratos). Possui ácido hialurônico, responsável pela viscosidade vítrea e pelo seu volume. Não tem capacidade de regeneração.

O humor aquoso, o cristalino e o vítreo preenchem todo o olho, sendo que cerca de três quartos é preenchido pelo vítreo.
Existe a terceira pálpebra, que se encontra aderida ao canto interno do olho. Se estende para o lado quando o animal pisca. É também conhecida como membrana nictante.

Membrana nictante
Fonte: https://dicaspeludas.blogspot.com/2011/09/olhos-vermelhos-em-caes-e-gatos-fique.html


Aves –

A maioria das aves possui o globo ocular muito grande, relativamente ao tamanho da cabeça do animal. É endurecido por um anel de ossículos escleróticos, geralmente situados próximo do cristalino; estes suportam e reforçam o local de origem dos músculos ciliares. Os ossículos também ajudam a manter a forma do globo ocular, especialmente nas espécies em que este não é esférico. O músculo da íris é estriado e apresenta uma resposta muito rápida às alterações da intensidade luminosa.

As aves de rapina e sua visão, com grande sensibilidade a movimentos
Fonte: https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/olho-e-a-redutibilidade-de-sua-complexidade

O fundo dos olhos das aves possui uma estrutura vascular chamada pécten ocular, que é pigmentada e protrui para o interior do vítreo, a partir da retina. O pécten ocular possui forma semelhante a um pente; é uma estrutura vascularizada e macia pertencente a coroide.
O tamanho do pécten ocular está relacionado com os hábitos diurno e noturno das aves, sendo maiores nas aves diurnas.

Esquema anatômico do olho de uma ave
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9cten_ocular

Diversos trabalhos foram publicados que inclusive abrangem aspectos morfológicos do órgão por meio de microscopia óptica e eletrônica. Todavia, as pesquisas utilizando metodologias que visam explorar e focar na sua função, principalmente in vivo, ainda são escassas e muitas vezes inconclusivas.

Possíveis funções do pécten:
  • ·       Proteger a retina da luz solar, lançando sombra sobre ela.
  • ·       Fornecer nutrição adicional à retina.
  • ·       Controlar o pH do humor vítreo.

O pécten ocular exerce pressão na lente e altera sua curvatura para acomodação (manutenção da pressão intra-ocular).

Pécten ocular (seta)
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2013001000014


Bovinos –

Os olhos dos bovinos são semelhantes aos olhos dos humanos, mas apresentam algumas diferenças:
  • ·       A íris tem tonalidade marrom, somente.
  • ·       A pupila é oval (e não redonda).
  • ·       Apresentam tapetum lucidum.
Olho de bovino
Fonte: https://pixabay.com/en/bull-rodeo-bull-s-eye-bovine-cow-466561/


Répteis –

Todos os répteis têm a capacidade de alterar o foco da visão para perto ou para longe, pois existe uma estrutura sobre o cristalino conhecida como almofada anelar que exerce pressão e altera a sua forma.
Existem formas variadas de pupilas, tais como abertura circular nas tartarugas e em muitos lagartos diurnos e serpentes, fenda vertical nos crocodilos e serpentes noturnas e fenda horizontal em algumas serpentes arborícolas.

Olhos dos répteis
https://www.tumblr.com/search/olhos%20repteis

Possuem uma lente (cristalino), porém este apresenta uma menor rigidez e, assim, é mais friável quando comparado ao dos mamíferos. A íris é controlada por músculo esquelético.
Nos olhos dos répteis, assim como no das aves, observa-se a presença de músculos esclerais os quais auxiliam no mecanismo de acomodação da visão. Contudo, nas espécies aquáticas, essa acomodação ocular é pobre devido ao índice de refração da água ser quase o mesmo de suas córneas.
Os olhos dos répteis possuem pálpebras e membrana nictitante, que auxiliam na proteção dessas estruturas. Eles têm glândulas lacrimais, fundamentais para manter a superfície dos olhos úmida fora da água.
Nos lagartos e em algumas serpentes há uma estrutura análoga ao pécten das aves, conhecida como cone papilar. Provavelmente tem a função de nutrir e remover metabólitos. Somente os crocodilianos possuem o tapetum lucidum.
O camaleão possui olhos grandes, com grande mobilidade e movimentos independentes. A retina é comparável à das aves de rapina e o cristalino tem poder de refração negativo. Possui rápida acomodação ocular, sendo a maior conhecida nos vertebrados terrestres.

Detalhes do olho de um camaleão. Pálpebras fundidas.
Fonte: https://netnature.wordpress.com/2015/07/13/camaleoes-estereopsia-e-visao-monocular/

Terceiro olho: este órgão não é exclusivo dos lagartos (presente na maioria das espécies); também está presente em organismos como lampreias (Petromyzontoidea), salamandras (Caudata) e outros répteis como as tuataras (Sphenodontia).

“Terceiro olho” (ponto cinza no centro do círculo azul) de um indivíduo adulto de Tropidurus hispidus Fotografia de Daniel Passos.
Fonte: https://blogdonurof.wordpress.com/2012/11/30/o-terceiro-olho-dos-lagartos/

Quanto à estrutura deste órgão, embora mais simples, sua forma geral é similar a dos olhos laterais (córnea, lente e retina), com exceção de não apresentar pálpebras e musculatura associada. Foi comprovada a ligação de um nervo que sai da retina do “terceiro olho” (formado por fibras neuronais) ao cérebro, mostrando que este órgão é funcional nos lagartos. Especificamente, o “terceiro olho” influencia o tempo de exposição à luz do sol, a taxa de deslocamento e a seleção de ambientes para termorregulação nos lagartos.


Peixes –

Olhos de peixe
Fonte: https://www.bancodasaude.com/noticias/olhos-de-peixe-podem-ajudar-oftalmologia-humana/

O olho dos peixes apresenta um cristalino esférico, denso e espesso, e uma córnea quase plana. O cristalino está fixo por um músculo refrator que o pode mover para perto da retina para fazer a acomodação. A esclerótica apresenta porções cartilagíneas que conferem maior rigidez ao globo ocular, auxiliando a manutenção da sua forma.

Anatomia do olho de um peixe, já com todas as estruturas básicas dos olhos dos vertebrados (earthlife.net)
Fonte: http://francisco-scientiaestpotentia.blogspot.com/2014/06/colageno-uma-nova-adesao-velhos-erros.html


Anfíbios –

Na fase larval, os anfíbios possuem olho com o cristalino esférico, adaptado à visão aquática. Na fase adulta, o cristalino torna-se oval. A córnea apresenta capacidade de adaptar a sua curvatura. A pálpebra superior é fixa e a pálpebra inferior é transparente e móvel.

Olhos grandes servem para localizar as presas na escuridão da noite.
Fonte: http://www.ra-bugio.org.br/anfibios_sobre_03.php

Existe uma grande mobilidade nos olhos dos anfíbios, devido à músculos que o levam para fora da cavidade ocular (levator bulbi) e o trazem para dentro (retrator bulbi). Fecham os olhos devido a este movimento para dentro da cavidade ocular, fazendo com que as pálpebras se encontrem. Possuem membrana nictante na parte inferior dos olhos.
Nos vertebrados aquáticos, em geral, a visão não é um sentido muito importante, devido às características do próprio meio aquático, que provoca o desvio dos raios luminosos, e devido à estrutura do próprio olho.



Referências –

Oftalmologia em Pequenos Animais
Série Clínica - Veterinária na Prática
Sally M. Turner – Editor da Série: Fred Nind
Elsevier - 2010

http://bdm.unb.br/bitstream/10483/11428/1/2015_RachelLouiseAutranLourencoTeixeiraNeto.pdf
http://www.oftalmologianimal.com.br/2009/04/bulbo-ocular.html
https://www.passeidireto.com/arquivo/37298881/oftalmologia-veterinaria---anatomia-do-bulbo-ocular-livro---unidade-1/3
http://www.vevet.com.br/2013/09/medicina-de-aves-pet-revisao-de.html
https://www.metodoselfhealing.com.br/funcao-dos-olhos/
http://www.biozoomer.com/2012/04/pecten-in-birds.html
https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/37839
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos3/Repteis.php
http://biofisicapuc.blogspot.com/2009/09/visao-dos-vertebrados-exceto-as.html
https://blogdonurof.wordpress.com/2012/11/30/o-terceiro-olho-dos-lagartos/
https://www.passeidireto.com/arquivo/1198461/anfibios


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