sábado, 8 de setembro de 2018

UVEÍTE


É a inflamação da camada média do olho (trato uveal), formada pela íris, pelo corpo ciliar e pela coroide. Pode ocorrer, também, inflamação da retina, do nervo óptico, do vítreo e da esclera.*

Ilustração da anatomia do olho
Fonte: http://www.visaoanimal.com.br


Dependendo do local da inflamação, a uveíte pode ser classificada em:

- Uveíte anterior (ou clássica) – irite, iridociclite - acomete a íris e/ou o corpo ciliar, devido a traumatismos, bactérias, vírus, neoplasias, entre outras causas. O animal pode apresentar miose (constrição da pupila), lacrimejamento excessivo, edema na íris, córnea com aparência turva, sensibilidade à luz.


          - Uveíte intermediária (ou insidiosa) – pars planite – é causada por um aglomerado de células inflamatórias na cápsula posterior da lente e/ou na porção anterior do corpo vítreo. Frequentemente é causada pela inflamação intraocular secundária ao vírus da imunodeficiência felina (FIV).


       - Uveíte posteriorcoriorretinite (inflamação da retina e da coroide), retinite e coroidite.

Tipos de uveítes

Fonte: https://dicaspeludaswordpress.files.wordpress.com/2011/09/666872825.jpg

Cães –

A uveíte canina pode acometer qualquer cão, independente de idade e sexo, mas tem maior ocorrência em cães entre 2 e 3 anos de idade. Pode ocorrer por ação de fungos (Blastomices), protozoários (Neospora, Leishmania), bactérias (Leptospira), vírus e parasitas. Pode, também, ocorrer pelo aumento patológico dos lipídios ou proteínas em circulação, hipertensão, traumas no olho, toxemia, lesões na córnea e doença periodontal. Em algumas raças, como Golden Retrievers, pode ocorrer por quistos na íris.
A uveíte pode ocorrer por forma idiopática, quando há invasão de células inflamatórias (autoimune), por síndrome uveodermatológica ou por reação pós vacina.

Uveíte em cão
Fonte: https://dicaspeludas.blogspot.com/2011/09/olhos-vermelhos-em-caes-e-gatos-fique.html

Gatos –

A uveíte felina, apesar de aparecer em qualquer idade e sexo, tem maior frequência em machos, entre os 7 e 9 anos de idade. Na maioria dos casos não é possível identificar a causa, mas geralmente ocorre por traumas, neoplasias (linfomas ou melanoma da íris), fungos (Blastomices) ou doenças infecciosas, tais como toxoplasmose (Toxoplasma gondii), peritonite infecciosa felina (FIP), bartonelose (Bartonella henselae), vírus da imunodeficiência felina (FIV), herpesvírus-1 felino (FHV-1) e vírus da leucemia felina (FeLV).

Uveíte em gato
Fonte: http://caldnovian.blogspot.com/2013/07/uveite-felina-doencas-em-gatos.html
  
Equinos –

A uveíte recorrente equina (URE), também conhecida como oftalmia periódica e cegueira da lua, é uma inflamação da camada vascular que compõe o bulbo ocular (úvea ou trato uveal). As possíveis causas para o surgimento da inflamação podem ser traumatismos (diretos ou perfurantes), como também em decorrência de outras doenças (adenite equina, brucelose) e outros agentes patológicos (Leptospira interrogans e a microfilária do nematoide Onchocerca cervicalis).

Uveíte em equino
Fonte: https://cavalus.com.br/saude-animal/uveite-recorrente-equina-cegueira-da-lua
           
            Quando não é tratada devidamente, pode causar catarata, glaucoma, Phthisis bulbi* e cegueira.
            O prognóstico de equinos com URE geralmente é desfavorável, dependendo do diagnóstico, tratamento e do acompanhamento do caso, sendo uma patologia com episódios recidivos.

Phthisis bulbi* - Phthsis bulbi ou atrofia ocular, também conhecida como fase final dos olhos, é um globo ocular atrófico cicatrizado e desorganizado que pode resultar de uma variedade de insultos oculares graves.

Anamnese e exames –

Durante a anamnese, observa-se a presença de dor (causada pela luz – fotofobia), blefaroespasmo, epífora, vermelhidão, córnea azul ou esbranquiçada e dificuldade visual.
Durante o exame físico, há desconforto ao contato, edema corneal e iridiano, hiperemia, congestão ciliar, baixa pressão intraocular, miose, hipópio*, hifema e exsudação fibrinosa.
Quando há cronicidade da doença, pode o animal pode apresentar catarata e glaucoma secundários e hiperpigmentação de íris.
Caso o animal apresente alterações bilaterais, recomenda-se exames clínicos, tais como hemograma, bioquímica sérica, urinálise e radiografia. Exames citológicos são indicados em casos de neoplasias, e cultura quando há suspeita de infecções bacterianas. Ainda recomenda-se avaliar a dosagem dos níveis de imunoglobulinas em suspeita de leptospirose ou toxoplasmose.

*hipópio - presença e acúmulo de pus na câmara interior do olho, achado clínico comum em processos inflamatórios e infecciosos que acometem a córnea, úvea e outras estruturas oculares.

Quadro severo de uveíte anterior em equino, resultando em hipópio na câmara anterior.
Fonte: VeterianKey
Fonte: http://informativoequestre.com.br/hipopio-em-equinos/

Sinais e sintomas –

A inflamação ocorrente pode desencadear muitos sinais clínicos e sintomas. Pode-se observar miose no olho afetado, inchaço da íris, estrabismo, olho vermelho, protusão da terceira pálpebra, secreção ocular líquida ou mucosa, córnea turva ou com vasos sanguíneos (vascularização), bleferoespasmo e epífora (lacrimejamento).
O animal pode mostrar desconforto em contato com a luz (fotofobia), bem como a perda da visão (cegueira), mas esta pode não ser notada caso o outro olho estiver com a visão normal. Também pode apresentar catarata, olho inchado devido a glaucoma e luxação da lente.

Diagnóstico –

O diagnóstico é feito através dos achados na anamnese e nos exames físico e clínico.
Dentre os diagnósticos diferenciais estão: glaucoma, episclerite ou esclerite, conjuntivite, ceratite não ulcerativa, Síndrome de Horner*.

*Síndrome de Horner (SH) – conjunto de sinais neuro-oftálmicos que surgem após a interrupção ou perda da inervação simpática para o globo ocular e seus anexos, de um ou ambos os olhos, causando anisocoria (com miose no olho afetado), protusão da terceira pálpebra, ptose palpebral e enoftalmia. A miose é a manifestação clínica mais evidente.

Gato apresentando Síndrome de Horner
Fonte: http://oftalmologiavet.blogspot.com/2013/04/sindrome-de-horner-em-caes-e-gatos.html

Tratamento –

É escolhido conforme o grau em que a injúria se encontra. Em casos de uveíte simples, o tratamento pode ser feito em casa, sem necessidade de internação e cirurgia. É receitado esteroides tópicos (colírios), como a prednisolona. Também pode ser aplicado por um médico veterinário diretamente na conjuntiva do olho.
Em casos de uveítes mais graves pode-se sugerir cirurgia para tratamento das causas primárias, tais como remoção da lente, correção do glaucoma secundário, enucleação (remoção do olho) quando há cancro da íris ou glaucoma secundário grave. Recomenda-se a administração intravenosa de dexametasona em cães, para reduzir o influxo de proteína para o humor aquoso. Quando combinada à flunixin meglumine, o efeito é potencializado.
Recomenda-se, ainda, o uso de anti-inflamatórios não esteroides, como o diclofenaco. Não é indicado o uso de esteroides, pois este pode potencializar as infecções existentes por causar imunossupressão.
Quando há necessidade de uso prolongado ou altas doses de imunossupressores, indica-se o uso de antibióticos como método profilático, como o cloranfenicol, por possuir eficiente penetração na córnea.
Para reduzir a dor e reduzir a produção lacrimal, usa-se atropina (uso tópico) para dilatar a pupila. A aplicação oral pode causar salivação.
Para o bem-estar do animal, é recomendado manter o animal longe da luz forte, para reduzir a dor.

O prognóstico da uveíte é reservado, dependendo da resposta ao tratamento e da doença causadora. Em doenças tratáveis, como a toxoplasmose nos gatos, o prognóstico é bom. Nos cães, o prognóstico é reservado.

As complicações que poderão acontecer em decorrência da uveíte são: glaucoma e catarata secundários, luxação da lente, descolamento de retina, íris “bombé”*, perda de tecido do globo ocular e complicações sistêmicas, podendo levar o animal a morte.

*Iris “bombé” – alteração na forma da íris, que pode levar a alterações estruturais no "filtro natural" do olho e aumentar a pressão intraocular.

Íris “bombé”
Fonte: http://mimvet.blogspot.com/2015/02/mcac-i-atlas-de-oftalmologia.html


Sempre procurar a ajuda de um médico veterinário, que saberá a dose correta dos medicamentos e o tempo ideal a serem administrados.


Referências –

https://dicaspeludaswordpress.files.wordpress.com/2011/09/666872825.jpg
https://omeuanimal.com/uveite-canina-uveite-felina/
http://caldnovian.blogspot.com/2013/07/uveite-felina-doencas-em-gatos.html
https://cavalus.com.br/saude-animal/uveite-recorrente-equina-cegueira-da-lua
https://www.researchgate.net/publication/282976440_Uveite_Recorrente_Equina_-_Revisao_de_Literatura_Equine_Recurrent_Uveitis_Literature_Review
https://ceospoftalmologia.com/uveites/
http://bdm.unb.br/bitstream/10483/11428/1/2015_RachelLouiseAutranLourencoTeixeiraNeto.pdf
https://www.passeidireto.com/arquivo/31072506/manual-de-oftalmologia-veterinariapdf
http://informativoequestre.com.br/hipopio-em-equinos/
http://www.spenzieri.com.br/2012/11/27/phthisis-bulbi/
http://bahr-bituricos.blogspot.com/2007/12/sndrome-de-horner-em-pequenos-animais.html

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