quarta-feira, 15 de abril de 2020

CORONAVÍRUS EM GATOS – É TRANSMISSÍVEL AO HOMEM?


Fonte: https://qcanimais.com.br/fralda-para-gato-para-que-serve-confira-dicas/

Antes de sabermos sobre o coronavírus que infecta os gatos, vamos a seguinte pergunta: este vírus é transmitido do animal para o homem?

Assim como vários animais, os gatos também podem ser infectados com o coronavírus, mas saiba que o subtipo que afeta os felinos não é o mesmo responsável pelo COVID-19, em humanos.
Presente em diversos países, o COVID-19 causa uma enfermidade que não é uma zoonose transmitida por cães, gatos ou outros animais (exceto pelos morcegos) – o que faz com que não possamos relacionar a presença do coronavírus em animais ao problema em seres humanos.

Ver também: https://bemestaranimalvet.blogspot.com/2020/03/coronavirus-em-caes-e-transmissivel-ao.html

O coronavírus felino (CoVF) é um vírus de RNA de fita positiva, altamente infeccioso, da espécie Alphacoronavirus 1 do gênero Alphacoronavirus pertencente à família de vírus Coronaviridae.  O alfacoronavírus 1 também inclui o coronavírus canino (CoVC) e o coronavírus da gastroenterite transmissível porcina (TGEV). Possui duas formas diferentes: o FECV (coronavírus entérico felino) que infecta os intestinos e o FIPV (vírus da peritonite infecciosa felina) que causa a doença peritonite infecciosa felina (PIF).
Locais com grande número de animais (gatis, por exemplo) é fator de risco para o desenvolvimento de casos de peritonite infeciosa felina (existe o risco de mutação do vírus para FIPV). Porém, a PIF desenvolve-se principalmente em gatos cuja a imunidade é débil (gatinhos, gatos mais velhos em idade, devido à imunossupressão viral (Retroviridae) FIV (vírus da imunodeficiência felina) e/ou também FELV (vírus da leucemia felina). 

Coronavírus
Fonte: https://www.trespm.mx/eco/pet-s/el-coronavirus-puede-afectar-a-los-perros


Coronavírus entérico felino (FECV)

O coronavírus entérico felino é responsável por uma infecção das células epiteliais gastrointestinais maduras. Esta infecção intestinal tem poucos sinais externos e geralmente é crônica.
Gatos que vivem em grupos podem se infectar com diferentes cepas do vírus durante visitas a uma bandeja de areia comum. Alguns gatos são resistentes ao vírus e podem evitar infecções ou até se tornar portadores, enquanto outros podem se tornar portadores de FECV. Os portadores podem curar-se espontaneamente, mas a imunidade adquirida pode ser curta e eles podem se infectar novamente dentro de algumas semanas, se estiverem vivendo em um grupo com portadores excretores saudáveis, mas persistentes. Alguns gatos nunca se curam e a fase excretora permanece permanentemente.
Gatinhos nascidos de mães portadoras de FECV são protegidos contra infecções durante as primeiras semanas de vida até serem desmamados por anticorpos maternos. Recomenda-se que os filhotes sejam desmamados precocemente e segregados da mãe antes de se infectarem (cerca de 5 a 6 semanas). Gatinhos sem contaminação externa e privados de contato com a mãe durante os primeiros 2 meses de vida (um importante período imunológico) podem ser protegidos.

Vírus da peritonite infecciosa felina (FIPV) e peritonite infecciosa felina

O vírus se torna vírus da peritonite infecciosa felina (FIPV) quando ocorrem erros aleatórios no vírus que infectam um enterócito, causando a mutação do vírus de FECV para FIPV. O FIPV causa uma doença letal e incurável: a peritonite infecciosa felina (PIF).
Em estado natural, os gatos são animais solitários e não compartilham espaço (áreas de caça, áreas de descanso, locais de defecação, etc.). Gatos domésticos que vivem em um grupo, portanto, têm um risco epidemiológico muito maior de mutação.

Transmissão –

O coronavírus felino geralmente é eliminado nas fezes por gatos portadores saudáveis ​​e transmitido pela via fecal-oral a outros gatos. Em ambientes com vários gatos, a taxa de transmissão é muito maior em comparação aos ambientes de gato único.
FECV - Alguns gatos são resistentes a este vírus e não desenvolvem nenhuma infecção, enquanto outros serão portadores por algum tempo. Podem curar-se espontaneamente, mas a imunidade adquirida é curta. Caso vivam num grupo onde existam excretores (portadores saudáveis), podem contaminar-se novamente.
           
PIF - As partículas virais causadoras da PIF possam sobreviver em secreções secas por até 7 semanas. Estudos epidemiológicos sugerem o seguinte:
            • Alguns gatos saudáveis, soropositivos ao coronavírus, eliminam o vírus.
• Gatos soronegativos geralmente não eliminam o vírus.
• Filhotes geralmente não se infectam por coronavírus por via transplacentária.
• Anticorpos maternos contra o coronavírus desaparecem por volta de 4 a 6 semanas de idade.
• Os filhotes apresentam maior probabilidade de serem infectados pelo contato com outros gatos do que com seus progenitores após a diminuição dos anticorpos maternos.
• Anticorpos são desenvolvidos por volta de 8 a 14 semanas de idade após a infecção natural por coronavírus.

Sinais e sintomas –

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/528047125040260188/

O coronavírus entérico felino produz uma gastrenterite leve e do tipo crônica. Muitos gatos são resistentes e são somente portadores, embora o vírus tem a capacidade de mutar dando lugar à peritonite infeciosa felina.
A peritonite infeciosa felina pode apresentar-se de duas formas distintas: a forma seca ou a forma úmida
A forma seca (ou não efusiva) do vírus afeta vários órgãos, pelo que se produz uma grande variedade de sintomas; lesões piogranulomatosas ou granulomatosas podem se desenvolver em múltiplos tecidos, particularmente nos olhos, cérebro, rins, omento e fígado. Podem ocorrer lesões no sistema nervoso central e ocular. O seu início é insidioso, observa-se perda de peso, depressão, anemia, febre e a acumulação de líquido tende a ser mínima. À palpação sentem-se as irregularidades das vísceras ou linfadenopatias mesentéricas. As lesões no pulmão podem manifestar-se como pneumonia granulomatosa com tosse persistente sem se notar a dispneia.
Podem apresentar sinais neurológicos, tais como paresia posterior e ataxia que progride para tetraparesia, e sinais oculares, tais como uveíte anterior (iridociclite com pupila miótica), hipópio, hifema, edema corneal.
O curso clínico é mais prolongado nesta forma de doença do que na úmida, mas são poucos os gatos que sobrevivem mais de um ano.
Na forma úmida (ou efusiva) produzem-se fluídos em cavidades corporais, como no caso do peritônio e a pleura; se caracteriza por uma vasculite gerada por imunocomplexos e o consequente extravasamento de proteínas séricas para o espaço pleural, cavidade peritoneal, espaço pericárdico e espaço subcapsular dos rins, causando aumento progressivo do abdômen, sendo esta a manifestação clínica mais comum.
A extensão da inflamação a outros órgãos pode produzir sinais de alteração hepática, como a icterícia, vômitos, períodos flutuantes de diarreia e obstipação. Além disso, nódulos linfáticos aumentam de volume, e os rins crescem de forma irregular.
É a forma mais fulminante da doença, com um início mais rápido e curso clínico mais curto. O tempo de vida desde o início da doença é de 5 a 7 semanas.
Ambas as formas, quer a úmida, quer a seca, apresentam sintomas em comum febre, inapetência e a letargia.

Diagnóstico –

O vírus causador da FEVC pode ser detectado pela reação em cadeia da polimerase (PCR) das fezes ou pelo teste de amostras retais por PCR.
Não existe um teste de diagnóstico específico para a PIF. As biópsias de tecidos afetados podem confirmar o diagnóstico, mas geralmente não são feitas devido à gravidade do animal.
Podem realizar-se os seguintes exames complementares:
·         Análises de líquido de derrame: obteremos um líquido amarelo claro a castanho avermelhado, viscoso, que coagula e é rico em fibrina.
·         Análises (hemograma, bioquímica, etc.): leucocitose por neutrófila absoluta, com ou sem desvio para a esquerda; eosinopenia e linfopenia. 40% dos gatos desenvolve anemia ligeira a moderada, normocítica e normocrómica. Hiperproteinemia devido principalmente a uma hipergamaglobulinemia policlonal. O fibrinogénio também é aumentado.
·         Serologias: a PIF pode ser diagnosticada pelo esfregaço de células do reto (legra) e pela detecção do RNA do vírus mediante PCR.

Por outra parte, os gatos podem ser testados para comprovar se estiveram expostos a um coronavírus analisando a presença de anticorpos específicos contra o coronavírus felino por ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática) e IFA (imunofluorescência). 

Tratamento –

Não há cura, seja para o coronavírus entérico (FECV), seja para a peritonite infecciosa felina (PIF).
O tratamento é sintomático à base de anti-inflamatórios e estimulantes do apetite. Os estudos realizados não demonstram nenhum benefício com antivirais.  


Prevenção -      


Fonte: https://qcanimais.com.br/fralda-para-gato-para-que-serve-confira-dicas/

            A melhor maneira de prevenir a infecção por coronavírus é evitar a exposição do animal ao vírus.
Medidas higiênicas são extremamente importantes para evitar o contágio entre os gatos, entre os quais se destaca o uso de várias caixas de areia.
Até o momento, não existem vacinas para prevenir o CoVF, mas manter os gatos dentro de casa, sem contato com animais desconhecidos, e adquirir animais em abrigos e criadouros negativos para PIF é fundamental para evitar o problema.
Segundo a Associação Mundial de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - WSAVA, existe vacina contra PIF disponível em alguns países*, mas não há absolutamente nenhuma base científica para sugerir esta vacina.

*vacina para aplicação intranasal existente nos Estados Unidos - Primucell FIP®, Pfizer.


Felídeos não domésticos -

Há relatos de infecção com o CoVF em uma variedade de felídeos não domésticos, tais como: gatos selvagens europeus (Felis silvestris), leões (Panthera leo), tigres (P. tigris), jaguares (P. onca), leopardos (P. pardus), gatos-do-deserto (sand cat, Felis margarita), pumas (F. concolor), caracais (lince-do-deserto, Caracal caracal), servais (Felis serval), linces (Lynx lynx) no Canadá, mas não o lince eurasiano na Suécia, lince baio (bobcat, Lynx rufus) e guepardos (Acinonyx jubatus).
Como acontece com os gatos domésticos, é mais provável que o CoVF seja um problema em felídeos confinados em ambientes internos ou locais de exibição, que soltos em seu habitat natural.


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Referências –


Consulta Veterinária em 5 Minutos:  Espécies Canina e Felina 5a edição
Larry Patrick Tilley, Francis W. K. Smith, Jr.
Editora Manole

Doenças Infecciosas em Cães e Gatos / Craig E. Greene; tradução Idilia Vanzellotti, Patricia Lydie Voeux. - 4 ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015

Tratado de medicina interna de cães e gatos / Márcia Marques Jericó, Márcia Mery Kogika, João Pedro de Andrade Neto. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Roca, 2015

https://en.wikipedia.org/wiki/Feline_coronavirus
https://www.affinity-petcare.com/vetsandclinics/pt/o-coronavirus-felino-mais-que-uma-gastrenterite/
https://www.petlove.com.br/dicas/coronavirus-em-gatos
https://wsava.org/wp-content/uploads/2020/03/Advice-for-Veterinarians-about-Routine-Prophylactic-Vaccination-during-COVID-19-Portuguese.pdf