quarta-feira, 8 de junho de 2022

                       CONJUNTIVITE EM CÃES

 Fonte: https://petfriends.com.br/conjuntivite-canina/

  A conjuntiva ocular é uma membrana mucosa delgada que reveste as pálpebras e a porção exposta da esclera. É dividida em três partes anatômicas, contínuas uma a outra: conjuntiva palpebral (reveste as pálpebras), conjuntiva bulbar (reveste o bulbo ocular) e conjuntiva nictitante (reveste a terceira pálpebra). É composta de epitélio escamoso estratificado não queratinizado e substância própria. A conjuntiva é extremamente móvel, menos no limbo e nas margens palpebrais, e apresenta vasos estreitos, ramificados e tortuosos em sua natureza.

Algumas funções da conjuntiva são: a prevenção do ressecamento corneal, o aumento da mobilidade palpebral e atua como uma barreira para microrganismos e corpos estranhos.

Esquema do olho canino

Fonte: https://www.cpt.com.br/artigos/olhos-dos-animais-domesticos-voce-sabe-qual-a-funcao-das-palpebras

 

A conjuntivite é a inflamação da conjuntiva. As três reações mais comuns da conjuntiva são hiperemia (vermelhidão que ocorre pela dilatação dos vasos sanguíneos), quemose (inchaço do tecido que recobre as pálpebras; edema conjuntival) e secreção ocular.

É importante saber a localização anatômica da hiperemia para diferenciar uma conjuntivite superficial de processos inflamatórios intraoculares mais graves. A hiperemia pode ou não estar presente.  A córnea não é afetada e a pressão intraocular é normal.

A quemose* é mais notável no processo de conjuntivite aguda, quando o inchaço ou edema da conjuntiva pode ser mais grave.

A secreção ocular é muito comum na conjuntivite. Pode ser serosa, mucoide ou catarral (conjuntivite folicular), mucopurulenta ou purulenta.

A natureza da epífora** vai apontar o tipo/causa da conjuntivite e, assim, indicar o tratamento correto.

 Olho de um cão com secreção purulenta devido a conjuntivite

Fonte: https://animais.culturamix.com/doencas/perigos-da-conjuntivite-canina

*Quemose - edema na conjuntiva, que pode ou não estar associado com inflamação no olho.

**Epífora - patologia ocular caracterizada por um extravasamento do filme lacrimal pela região subocular, causando conjuntivites recorrentes, dermatites, fistulações e mancha suboculares importantes. Pode ocorrer por anomalias congênitas ou condições adquiridas as quais provocam um estreitamento ou obstrução em algum nível do sistema excretor lacrimal. 

Olho de um cão apresentando epífora

Fonte: https://caoegatoetudodebom.com.br/como-tratar-mancha-escura-na-pele-do-olho-do-cachorro-branco/

Sinais e sintomas –

Além da hiperemia, quemose e secreção ocular, há outros sinais clínicos como a hemorragia, blefarospasmos (contrações involuntárias da pálpebra), formação de folículos, prurido, inchaços anormais e hemorragia subconjuntival.

A dor e a fotofobia são, normalmente, mínimas.

Diagnóstico –

Após exames (hemograma e urinálise) para determinar o estado geral da saúde do animal, são necessários exames oftalmológicos, onde é examinada a opacidade do cristalino, lacrimejamento e pressão intraocular (PIO), bem como exame de fundo de olho.

Diagnóstico diferencial

         Conjuntivite primária: de origem viral, bacteriana, alérgica, tóxica ou química.

        Conjuntivite secundária: à doença adnexal, à doença corneal (ceratoconjuntivite seca ou ulceração), à doença retrobulbar, blefaropatias (entrópio, ectrópio e fundo-de-saco exagerado), doenças dos cílios (distiquíase e cílios ectópicos) e doença sistêmica (incluindo doença dentária).

Métodos diagnósticos*** –

Teste de Schirmer em cão

Fonte: https://www.unoeste.br/noticias/2014/3/hv-promove-campanha-sobre-a-doenca-do-olho-seco-em-caes

• Exame oftalmológico completo (teste lacrimal de Schirmer) — excluir ceratoconjuntivite seca.

• Coloração com fluoresceína — descartar ceratite ulcerativa.

• Mensuração da pressão intraocular — excluir glaucoma.

• Exame em busca de sinais de uveíte anterior (p. ex., hipotonia, rubor aquoso e miose).

• Exame detalhado dos anexos — descartar anormalidades das pálpebras e dos cílios, bem como corpos estranhos nos fundos-de-saco (fórnix) conjuntivais ou sob a membrana nictitante.

• Lavagem com irrigação nasolacrimal — considerada para descartar doença nasolacrimal.

• Cultura bacteriana aeróbia e antibiograma — em casos de secreção mucopurulenta; as amostras são idealmente coletadas antes de se instilar qualquer coisa nos olhos (p. ex., anestésico tópico, fluoresceína e irrigação) para evitar a inibição ou a diluição do crescimento bacteriano; exames não indicados com rotina em casos de ceratoconjuntivite seca e secreção mucopurulenta, pois a proliferação bacteriana secundária é quase incontestável.

• Citologia conjuntival — pode revelar a causa (raro); o encontro de eosinófilos e basófilos podem ajudar a diagnosticar conjuntivite alérgica e eosinofílica, mas essas células raramente são observadas em casos de conjuntivite alérgica, exceto à biopsia; como indicadores de infecção bacteriana, podem-se observar neutrófilos degenerados e bactérias intracitoplasmáticas; podem-se verificar corpúsculos de inclusão (intracitoplasmáticos em casos de envolvimento do vírus da cinomose).

• Biopsia conjuntival — pode ser útil em casos de lesões expansivas (tipo massa) e doenças imunomediadas; pode auxiliar na obtenção do diagnóstico definitivo em casos de doença crônica.

• Teste cutâneo intradérmico — pode ter utilidade na suspeita de conjuntivite alérgica.

***retirado na íntegra do livro Consulta Veterinária em 5 Minutos - 5ª edição - Tilley e Smith Jr. – pg. 262


Tratamento –

Aplicação de colírio em cão

Fonte: https://inovaveterinaria.com.br/ulcera-de-cornea-em-caes/

        O tratamento vai depender de alguns fatores, como o tipo de secreção apresentada no olho do animal, por exemplo.

Nos casos em que a secreção é catarral, recomenda-se a higiene do olho, várias vezes ao dia. Se houver suspeita de alguma infecção (ou para preveni-la) pode ser usado colírios antissépticos à base de amônios quaternários ou de antibióticos de amplo espectro.

Quando a secreção e mucosa (conjuntivite folicular), o tratamento consiste na destruição dos folículos (por curetagem, por exemplo), e a aplicação de colírios ou pomadas oftálmicos, durante 7 a 10 dias, várias vezes ao dia. Observação: alguns oftalmologistas não recomendam a retirada dos folículos por estes representarem um meio de defesa ocular, somente sendo retirados em casos muito graves.

Já nos casos do animal apresentar secreção mucopurulenta ou purulenta, recomenda-se a administração de colírios à base de antibióticos de amplo espectro ou de associações de antibióticos, tais como cloranfenicol, neomicina, polimixina B, gentamina, entre outros. Em caso de insucesso, é necessário exame microbiológico, micológico e antibiograma para um diagnóstico mais preciso.

Quando há suspeita de ceratoconjuntivite por defeito lacrimal, o teste de Schirmer assegura o diagnóstico.

          Em casos onde há suspeita de dermatopatias e/ou alergia alimentar subjacentes, recomenda-se uma dieta de eliminação (hipoalergênica).

 

Nota: é interessante saber que existem raças de cães com predisposições a problemas oculares de origem congênita ou adquirida. Shar pei, Bulldog, Rottweiler, Chow chow, entre outras raças, podem desenvolver alterações nas pálpebras e prolapso da glândula da terceira pálbebra (aparece uma bolinha vermelha no canto interno do olho), necessitando de tratamento cirúrgico. Raças de focinho curto e olhos salientes (braquicefálicos), tais como Pug, Shih tzu, Lhasa apso, Pequinês e Maltês podem desenvolver úlceras de córnea. Já as raças Cocker spaniel, Poodle, Beagle e Bulldog tem predisposição a lágrima ácida (lágrima em quantidade e qualidade inadequadas).


Não medique o animal!!!

Ele deve ser levado a uma clínica veterinária quando houver suspeita da doença. O tratamento correto será prescrito pelo médico veterinário.

 

Referências –

MORAILLON, R. Manual Elsevier de Veterinária : diagnóstico e tratamento de cães, gatos e animais exóticos / Robert Moraillon, Yves Legeay, Didier Boussarie, Odile Sénécat - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013.

TILLEY, LARRY P. Consulta veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina / Larry Patrick Tilley, Francis W. K. Smith Junior- 5. ed. -- Barueri, SP : Manole, 2015.

TURNER, SALLY M. Oftalmologia em pequenos animais / Sally M. Turner – Rio de Janeiro : Elsevier, 2010

https://petfriends.com.br/conjuntivite-canina

https://www.pubvet.com.br/artigo/2337/tratamento-ciruacutergico-da-epiacutefora-crocircnica-em-animais-de-companhia

https://www.portalsaofrancisco.com.br/saude/quemose


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